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quinta-feira, 28 de março de 2024

PECADO

 Dentre as acusações feitas à psicologia por esta influencer cristã reformada podemos destacar algumas absurdas: incentivar o orgulho e o egoísmo, não confrontar pecados, esconder pecados com diagnósticos, transferir a culpa, ser antibíblica, e a mais grave de todas, dizer que Deus não é suficiente para resolver os problemas humanos (Ela afirma que isso é dito em todas as sessões). Não é de hoje que pastores e teólogos acusam a psicologia de ser uma religião paralela enrustida que rivaliza com a fé cristã, sendo contrária aos seus princípios e valores. Desde o meu tempo de faculdade, em meados da década de 1990, autores cristãos já se dedicavam a combater a psicologia, sugerindo que o aconselhamento pastoral a substituísse. Como psicólogo e pastor posso afirmar que tais críticas não passem de besteirol. Como pastor e teólogo, ao ser procurado para um gabinete pastoral, recorro a categorias inerentes à minha fé, como pecado, arrependimento, redenção, etc. Porém, em meu setting terapêutico, lido com outras categorias, como transtornos, processos mentais, desenvolvimento humano, prevenção, percepção, memória, linguagem, etc. Ainda assim, recebo muita gente machucada em gabinetes pastorais conduzidos por pastores despreparados que em vez de estender a mão, preferem apontar o dedo, em vez de acolher, preferem acusar. Muitos encontram na clínica psicológica um ambiente seguro onde não serão julgados, mas ouvidos e acolhidos. Infelizmente devo admitir que poucas coisas têm feito um estrago psicológico tão grande quanto a religião mal aplicada. Meu papel como terapeuta não é “confrontar pecados”, visto que “pecado” seja uma categoria religiosa. Logo, não faz o menor sentido dizer que diagnósticos psicológicos tenham a pretensão de camuflar pecados. Seria como dizer que um diagnóstico de compulsão alimentar sirva apenas para esconder o pecado da glutonaria. E é assim que transtornos psicológicos são tratados como pecados que precisam ser confessados e abandonados, e alguns até como possessão demoníaca que necessita de exorcismo. Orar nunca é demais. Mas engana-se quem pensa que uma disciplina espiritual seja a resposta para todos os problemas humanos. Isso não significa descartar Deus, e sim, recusar-se a fazer d’Ele um mero solucionador de problemas ou um gênio da lâmpada. Acusar a psicologia de “transferir culpa” é outro absurdo sem tamanho. O psicólogo não dispõe de um “diabo” que lhe sirva de bode expiatório, nem de um “pecado original” que justifique as pulsões humanas. O que a psicologia faz é chamar o sujeito a assumir sua responsabilidade sobre sua própria existência, em vez de buscar muletas e amuletos. Nenhum dos teóricos da psicologia se arrogou profeta. Nenhum se atreveu a transformar suas teorias em dogmas irrefutáveis. Nenhum falou por Deus. Infelizmente, a religião segue sendo uma fábrica de transtornos na medida em que confere a certas experiências místicas e/ou catárticas o peso de uma epifania divina. Fé e ciência não precisam se entrincheirar uma contra a outra. A Psicologia e a Psiquiatria jamais se pretenderam inimigas da fé cristã ou de qualquer outra fé. Ambas têm em comum o desejo de tornar a existência humana mais digna e rica de significado.

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