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quinta-feira, 27 de abril de 2023

TABU

 O TABU DA VIRGINDADE - 


“Entre todas as virgindades, nenhuma é tão sagrada como a de uma página em branco.” Jacinto Benavent


“A virgindade é ao mesmo tempo obstáculo, desafio, doação.”

Carlos Drummond de Andrade


Em pleno século XXI ainda há uma aura de santidade ou romantismo em torno do tema. Milhões de jovens, independentemente de sua cultura, sonham com um momento mágico em que perderão sua virgindade na companhia de alguém por quem nutram um sentimento especial. Outras tantas se mantêm intactas por acreditarem que sua virgind4de deva ser preservada em nome de um ideal de castidade e pureza. Porém, para um número crescente de jovens, basta pintar a vontade de fazer sexo, e lá vão elas, sem qualquer preocupação com o que só teria tido algum valor no tempo de suas avós. Foi-se o tempo em que casar-se virgem era honrar o nome da família, e o contrário, era lança-lo na lama. Todavia, a virgind4de está longe de ser um tabu superado. Se o fosse, não veríamos jovens leiloando a sua virgind4de pelas redes sociais (Já há até sites especializados nisso!). 


Na reta final de 2017, uma jovem de apenas de 19 anos que se apresentou sob o pseudônimo de Giselle arrematou a bagatela de US$ 3 milhões (o equivalente na época a quase R$ 10 milhões!). Alegando que seu objetivo era o financiamento de seus estudos, a aquisição de uma casa e viagens mundo afora, a jovem declarou que jamais sonhou receber um lance tão alto pela sua virgind4de. Segundo a agência que realizou o leilão, o site alemão Cinderella Escorts, o altíssimo lance veio de um empresário de Abu Dhabi. Porém, faltou pouco para que o leilão não fosse arrematado por um ator de Hollywood – não identificado pelo site –, cujo lance foi de US$ 2,9 milhões (aproximadamente R$ 9,1 milhões). Reagindo às críticas, a jovem respondeu: “Se eu quero ter minha primeira vez com uma pessoa que não é meu primeiro amor, essa decisão é minha. O fato de que mulheres podem fazer o que quiserem com seus corpos e ter a coragem de viver sua sexualidade contra as críticas é uma forma de emancipação.” E ainda perguntou: “Quantas pessoas não trocariam a primeira vez que tiveram por R$ 10 milhões?”


Catarina Migliorini, a jovem catarinense de 21 anos que voltou a polemizar com sua virgind4de, ao realizar um novo leilão para perdê-la, já que o primeiro não deu certo, chegou a parafrasear um trecho bíblico para se defender: “Há uma passagem que diz que a 'virgindade vale mais do que o rubi', e achei interessante, porque ambos são vermelhos, ou seja: a pedra por si só é o sangue que escorre de uma virgem. Bem, cada mulher sabe o valor do seu rubi.”


Dennis Hof, dono do Moonlite Bunny Ranch, um notório bor.del na cidade de Nevada, nos Estados Unidos, comentou acerca da ideia de se oferecer a virgind4de em leilão: “Acho uma tremenda ideia. Por que perder a virgind4de para algum cara no banco de trás do carro quando você pode pagar pela sua educação?”


Se não houvesse qualquer valor na virgind4de, como explicar que tantas mulheres procurem clínicas médicas para reconstituir cirurgicamente seu hímen, numa tentativa de se valorizar ante o sexo oposto?


Seria isso uma evidência de que a virgind4de esteja em alta novamente? Ou será que ela jamais esteve realmente em baixa? 


Independentemente da resposta que se dê a estas questões, o fato é que inúmeras moças ainda sentem angústia e ansiedade com a perda da virgind4de. Umas comemoram, outras lamentam. Umas romantizam. Outras lucram. 


Numa sociedade mercantilista e machista como a nossa, em que a mulher muitas vezes é vista como um mero objeto, casar-se com uma mulher vir.gem pode ser comparado a adquirir um carro zero. Já uma mulher que passou por vários relacionamentos é chamada vul.garmente de “rodada.” Alguns, tomando a mesma analogia, se perguntam se não seria aconselhável um test drive antes de entrar num relacionamento.  


Para diversos segmentos religiosos, desde os seguidores fundamentalistas do Islã, até os adeptos do movimento evangélico norte-americano “True Love Waits” e de seu correlato brasileiro “Eu escolhi esperar”, conservar a virgind4de até o casamento segue sendo fundamental e indispensável. Artistas de renome como os integrantes do grupo Jonas Brothers, Miley Cyrus, atriz que interpretou Hannah Montana, e as atrizes e cantoras Demi Lovato e Selena Gomez, chegaram a ser garotos propaganda do movimento que adotou o anel de pureza como seu símbolo de comprometimento com a abstinência se.xual até o casamento. 

 

Bem da verdade, o conceito, a percepção e a importância da virgind4de mudaram ao longo da História. Na Antiguidade, por exemplo, tanto para os judeus, quanto para os gregos e romanos, a virgind4de era uma espécie da garantia para o marido de que o filho nascido de sua mulher seria seu legítimo herdeiro. Além disso, a satisfação se.xual máxima que um homem poderia obter era no defloramento de uma vir.gem. 


Algumas religiões antigas atribuíam uma espécie de valor mágico e sagrado à virgind4de. Assim por exemplo no antigo oráculo de Delfos o contato com os deuses era estabelecido pela Pítia, uma mulher vir.gem. Durante a idade média, acreditava-se que o mítico unicórnio só poderia ser domado por vir.gens. Algumas das divindades adoradas nas sociedades antigas tais como Ishtar, Diana, Astarte e Isis eram consideradas vir.gens. Assim como muitos de seus heróis eram considerados filhos de vir.gens, como Buda, Osíris e Genghis Khan.


O cristianismo, entretanto, introduziu uma novidade ao conceito de virgind4de. O que nas sociedades antigas era uma questão econômica passou a ser uma questão moral e espiritual. Se por um lado, isso trouxe um peso a mais, por outro, viabilizou certa emancipação da mulher, permitindo-a optar por se manter vir.gem para viver independentemente de marido e filhos. As mulheres deixaram de ser vistas apenas como procriadoras, mães e donas de casa. Quando optavam pela vida religiosa em um convento, por exemplo, tinham a oportunidade de estudar. 


Dada a importância atribuída à virgind4de, a violação de uma vir.gem se tornou num dos principais fetiches dos homens. Por outro lado, deflorar uma donzela significava desonrar a sua família. Quem ousasse fazê-lo teria que lidar com ódio e o desejo de vingança por parte de seu pai e irmãos. 


Para evitar a indesejável violação, muitas mulheres na Idade Média eram obrigadas a usar cintos de castidade. Era uma maneira considerada eficaz de garantir que elas não fossem tocadas antes do casamento, principalmente nos períodos em que seus maridos estivessem fora, como por exemplo, lutando em guerras.


A virgind4de só começaria a perder sua importância na época do iluminismo, e isso de maneira bem gradativa. 


HÍ.MEN ROMPIDO


Em geral, acredita-se que se o hí.men estiver rompido, a mulher já não seja vir.gem. Todavia, uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra. O hí.men é uma membrana mucosa situada na vul.va que bloqueia parcialmente a entrada da va.gina. Aparece em certos mamíferos para proteger as fêmeas dos riscos de infecções durante a sua infância, razão pela qual durante esta fase da vida das meninas ser uma membrana relativamente espessa e resistente. Mas com a chegada da puberdade essa membrana torna-se muito fina e pouco resistente. O hí.men é muitas vezes rompido durante a primeira pene.tração do pê.nis na va.gina, ato conhecido como de.floração. Entretanto, usar a integridade do hí.men como prova de virgind4de é um equívoco. O hí.men pode ser rompido acidentalmente por atividades físicas diversas, tais como andar de bicicleta, montar a cavalo, ginástica, ou ainda com algum movimento mais bruto. O hí.men preservado, todavia, não indica necessariamente que a mulher jamais haja sofrido uma pene.tração va.ginal (co.ito). O chamado “hí.men complacente”, caracterizado por sua elasticidade, pode permitir o co.ito sem que seja rompido, simplesmente ajustando-se ao diâmetro do pê.nis. Há casos em que o hí.men só é rompido no parto. Ademais, há inúmeros casos de mulheres que nasceram sem hí.men.


Por causa da ignorância em torno disso, durante muitos anos, depois que uma mulher se casava, era preciso expor o lençol usado na noite de núpcias a fim de provar que teria sido casta até então. Caso houvesse a esperada mancha de san.gue, a mulher era marginalizada tanto pelo marido, quanto pela família e a sociedade.


Etimologicamente, a palavra vir.gem tem origem no latim, na forma substantiva virgo, genitivo vir.gin-is, que significa "mulher jovem". Biologicamente, virgind4de pode ser definida como o atributo de uma pessoa (ou animal) que nunca tenha sido submetida a qualquer tipo de relação se.xual.


Já o conceito de virgind4de é construído pela sociedade, baseado em critérios tanto biológicos quanto socioculturais, e por isso, pode variar significativamente entre as culturas, além de ter sido modificado ao longo do tempo por questões políticas, religiosas e até econômicas. 


Como muitos cristãos veem a virgind4de hoje?


No afã de resgatar a importância da virgind4de, muitos pregadores populares têm sugerido que o rompimento do hí.men acompanhado de san.gramento aponte para o significado da aliança entre o casal unido pelos laços matrimonias. Alegam que toda vez que Deus entrava em aliança com alguém, havia a necessidade de um derramamento de san.gue que sinalizasse o comprometimento entre as duas partes. Foi assim com Noé ao sair da Arca, com Abraão e demais patriarcas, e, sobretudo, com Jesus que se ofereceu em sacrifício para que o seu san.gue selasse o pacto eterno entre Deus e os homens. Uma vez que o casamento entre o homem e a mulher tipifique a união entre Cristo e a Igreja, seria de se esperar que o rompimento do hí.men representasse o sinal da aliança que os une. Sendo assim, quando o rapaz e a moça se guardam se.xualmente até a noite de núpcias e têm sua primeira relação se.xual, eles estão selando a aliança com Deus e a aliança que fizeram um com o outro, não com um sacrifício, mas com prazer acompanhado de dor. Apesar da beleza da analogia, ela carece de fundamentação bíblica sólida. Não dá para construir doutrinas a partir de analogias. 


O que deveria ser opcional, tem se tornado num peso difícil de carregar.  


Algumas igrejas têm adotado conceitos que se perderam ainda na idade média, tais como o de fazer a corte antes de pedir em namoro. Os jovens são orientados a não se beijarem antes do casamento, pois a introdução da língua na boca do parceiro já poderia ser considerada uma modalidade de se.xo. Já, já, vão querer reabilitar o costume de cobrar dote pela noiva. 


LIBERALIZAÇÃO SE.XUAL


A invenção da pílula anticoncepcional, bem como a emancipação social das mulheres, alterou profundamente a visão que a sociedade tem da virgind4de, além de provocar a liberalização dos comportamentos se.xuais. Assim como a contracepção permitiu separar a se.xualidade do ato de procriação, exames como o de DNA fizeram com que virgind4de deixasse de ser a garantia de legítima filiação do casal.  


Se antes, o casamento era o único cenário possível para que uma moça perdesse sua virgind4de, hoje se fala da tal “hora certa”, quando a moça se sente preparada física e emocionalmente para o ato se.xual, tendo encontrada aquela que julga ser a pessoa certa. 


Para quem imagina que nos tempos de seus avôs é que as coisas aconteciam como e quando tinham que acontecer, vale dizer que muito do que era praticado então certamente nos escandalizaria haja vista os valores hoje cultivados pela sociedade. Por exemplo: era comum que um homem maduro, já com os seus vinte e poucos ou trinta e poucos anos se casasse com uma moça de quinze ou dezesseis anos. Hoje em dia, isso seria considerado pe.do.fi.lia. Assim como era relativamente comum que o pai levasse seu filho no início da puberdade para ser iniciado se.xualmente numa zona de pros.titui.ção. As convenções sociais evoluem. Pena que muitos se neguem a acompanhar esta evolução, preferindo a manutenção da hipocrisia vivida por seus antepassados. 


TECNICAMENTE VIR.GEM


“Tecnicamente vir.gem” é uma expressão comumente usada para se referir às mulheres que se envolveram em outros tipos de relações se.xuais que não envolvessem a pene.tração va.ginal, como o se.xo or4l e o an4l. Desde que o hí.men seja mantido intacto, a virgind4de estaria garantida. Tal artimanha nada mais é do que uma válvula de escape para quem não suporta o peso imposto pela religiosidade e por convenções sociais retrógadas e ultrapassadas. A pureza de uma mulher não está no fato de ela ser ou não iniciada se.xualmente. A pureza está no caráter ilibado, manifestado em uma conduta íntegra. Há quem seja casto, mas não seja puro. Como também há quem seja puro, porém, não seja casto. 


A castidade jamais deveria ser uma imposição. Se alguém opta por ela, que o faça por seguir sua própria consciência, e não por ceder à imposição de terceiros. 


Que os que escolheram esperar, não se achem em posição de julgar os que optaram por uma vida se.xual ativa. Não confunda vida se.xual ativa com promis.cuidade. Nem a falta da virgind4de com a falta de escrúpulos. 


O que sela a aliança entre dois corações que se amam não é o san.gramento de um hí.men rompido, mas a pureza de um sentimento legítimo de amor.

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